Covid-19: o que está acontecendo com a vacina da AstraZeneca?

A vacina da AstraZeneca é atualmente uma das vacinas utilizadas para combater a propagação do Covid-19. No entanto, o receio do aparecimento de possíveis efeitos secundários levou vários países europeus a interromper a sua implantação junto das suas populações.

Segundo as agências reguladoras desses países, a vacina AstraZeneca tem causado casos de trombose do seio venoso, formação de coágulos sanguíneos no cérebro, em pessoas que foram vacinadas. Na Alemanha, um total de sete pessoas dos 1,6 milhão de indivíduos vacinados com idades entre 20 e 55 anos experimentaram esse efeito colateral.

Uma análise de Gideon Meyerowitz-Katz, epidemiologista que trabalha com doenças crônicas em Sydney, na Austrália, mostra que os riscos de desenvolver trombose com a vacina AZ ainda são muito baixos.

Ensaio clínico e efeitos colaterais

Segundo Meyerowitz-Katz, durante um ensaio clínico, quando um efeito colateral aparece apenas em uma pessoa em cada 200.000 que receberam a vacina, o ensaio clínico teria que ser realizado em milhões de pessoas para poder colocá-lo em destaque com números .

Mesmo que o efeito adverso pareça bastante raro, ocorrendo em apenas uma pessoa em 200.000, para 80 milhões de pessoas vacinadas, por exemplo, o caso pode aparecer dezenas de vezes. No entanto, no processo de combate à pandemia, o objetivo da maioria dos países europeus é vacinar o maior número possível de pessoas no menor tempo possível. Os países implementaram sistemas de vigilância para determinar sinais de risco no enorme grupo que recebeu a vacina, depois de ter obtido o licenciamento para o público em geral.

No caso da vacina AZ, vários países notaram em seus dados de vigilância um “risco aumentado muito pequeno, mas potencialmente significativo” de desenvolver um coágulo sanguíneo, o que levaria à interrupção da implantação.

Quais são os riscos?

Os países que decidiram descontinuar o uso da vacina da AstraZeneca incluem Alemanha, Espanha e Noruega, entre outros.

Segundo a agência de saúde pública alemã, as sete pessoas que apresentaram casos de coágulo sanguíneo eram bastante jovens (entre 20 e 55 anos), o que é bastante preocupante. No entanto, de acordo com a análise de Meyerowitz-Katz, isso corresponde a uma taxa de apenas 0,00044%. A taxa de risco para as pessoas vacinadas com o produto AZ aumentou 0,00038%.

Segundo o epidemiologista, esse aumento não seria tão alto quanto se imagina. Em comparação, o número de mortes por Covid-19 entre jovens de 20 anos é de cerca de uma em 16.000 infecções, um número menor do que para pessoas mais velhas. Isso significa que o risco de morte em jovens de 20 anos seria 15 vezes maior do que o risco de ter coágulos sanguíneos.

Por outro lado, o epidemiologista acha que o fato de a vacina realmente causar o aparecimento de coágulos sanguíneos seria bastante improvável. Embora os dados da Alemanha tenham sido obtidos de 1,6 milhão de pessoas, nos outros países onde a vacina também foi implantada, nenhum aumento significativo no risco foi registrado. Por exemplo, no Reino Unido, mais de 10 milhões de doses foram usadas, mas apenas três casos de coágulos pós-vacina foram relatados de acordo com relatórios da MHRA.

Meyerowitz-Katz disse em sua análise que, ao combinar os números da Alemanha com os do Reino Unido, de repente não há mais um risco aumentado de coágulos sanguíneos. Ele acrescentou que, em escala populacional, os riscos de trombose podem parecer significativos, mas ainda são mínimos no nível individual.