Pedro Gonzales ou a verdadeira história de A Bela e a Fera

A hipertricose (cientificamente conhecida como hipertricoselanuginosa), é uma doença congênita muito rara. É um desenvolvimento anormal e proeminente do sistema capilar em humanos. Pedro Gonzales ou Petrus Gonsalvus é o primeiro homem conhecido a sofrer desta doença. O historiador Roberto Zapperi, em seu livro intitulado “The Gentleman Savage Tenerife”, conta a vida desse personagem raríssimo.

Chegando a Paris, Don Pedro, descendente de um rei Guanche, despertou curiosidade. Segundo Zapperi, “sua aparência incomum, sua pilosidade, despertou a curiosidade de certos príncipes”. Seu corpo estava coberto de pelos, com cerca de nove centímetros de comprimento. Apenas seu rosto foi poupado e se podia apreciar plenamente suas feições.

Nascido por volta de 1535 em Tenerife, nas Ilhas Canárias, Pedro foi enviado de presente ao governador da Holanda, imperador Carlos V, quando tinha dez anos. No entanto, corsários franceses o capturaram no caminho e o ofereceram ao rei Henrique II da França.

Um conto baseado em uma história real

Após a morte de Henrique II durante um torneio, o destino de Pedro Gonzalez dependia da rainha Catarina de Médici, que decidiu se casar com ele. Sob a ordem da rainha Catarina Raffelin, uma jovem parisiense de grande beleza viu-se obrigada a aceitar. Como se conheceram apenas no dia do casamento, a garota ficou terrivelmente horrorizada quando o viu pela primeira vez.

No entanto, o casal teve seis filhos chamados Madeleine, Henry, Françoise, Antonietta, Horacio e Ercole. Quatro deles herdaram a doença de seu pai. Este casamento arranjado pela rainha entre Petrus Gonsalve e a bela Catarina certamente inspirou o conto “A Bela e a Fera”. Esta história, que aconteceu no final do século XVI e no início do século XVII, teria de fato atraído a atenção de Gabrielle-Suzanne Barbot de Villeneuve, a autora do conto.

Um “monstro” inteligente e bem-educado

Sob a proteção do rei, apesar de suas características particulares, Pedro Gonzales recebeu uma excelente educação de tutores reais como Pierre Danes, Jacques Amyot e Robert Estienne. Tendo notado sua inteligência, o rei fez o possível para “civilizá-lo”, incutindo nele costumes sociais refinados. Mais tarde, o “selvagem do rei” tornou-se um dos intelectuais mais ocupados de Paris.

A morte de Catarina de Médici em 1589 tirou a família do favor da corte francesa. No entanto, seus membros foram admitidos na corte de Farnese sob a proteção de Margarida da Áustria, governadora de Flandres e duquesa de Parma. Dom Pedro morreu lá por volta de mil e seiscentos e dezoito, com a idade de oitenta.

Uma série de quatro pinturas que o representam com seus filhos estão expostas na câmara de arte e no gabinete de curiosidades do Castelo das Ambras. Faz parte de uma coleção criada por Fernando II da Áustria.

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